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1. |
Poema do Zeca
00:47
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Vivemos numa sociedade
Em que nunca há noção
Em que os meninos têm anciedade
e as meninas depressão
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2. |
Sentado na Festa
02:10
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estou sentado no meio de uma festa
embebedado com vontade de dormir uma sesta
estou me a tentar exprimir
todos a festejar
e eu a tentar não me vomitar
sou o mc zeca e sou ateu
pareço um minimeu
tou com ganda estaleca
tropeço no meu talento
enquanto escrevo uma biblioteca
peço um servo para me matar a fomeca
estou sentado no meio de uma festa
embebedado com vontade de dormir uma sesta
estoue a tentar me exprimir
todas as noites tenho de tomar comprimidos para dormir
todo o cash está ainda para vir
a caminho do topo
viro um copo
pinto o papel com as minhas rimas
messagem no meu movel é a tua bitch e as suas amigas
á espera do crop
viro top
á espera do brou
viro norte
á espera do flow
tiro o cop
estou sentado no meio de uma festa
embebedado com vontade de dormir uma sesta
estoue a tentar me exprimir
todas as noites tenho de tomar comprimidos para dormir
todo o cash está ainda para vir
a caminho do topo
viro um copo
pinto o papel com as minhas rimas
messagem no meu movel é a tua bitch e as suas amigas
á espera do crop
viro top
á espera do brou
viro norte
á espera do flow
tiro o cop
homem não vivo
chama me scarecrow
alimento me do teu medo
continuo com o meu bruxedo
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3. |
Café com Cheirinho
02:52
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Hoje acordei tava cheio de sono
Levantei-me da cama
Vi um bagaço sem dono
Infelizmente já não há café
Que ganda drama
Quando estou em baixo
És tu que me animas
Dás-me buéda energia
Melhor que vitaminas
Se estou cansado
é só mandar vir
um café com cheirinho
e fico logo a sorrir
é barato e rápido a sair
a única merda é ter que ir pedir
Se estou cansado
é só mandar vir
um café com cheirinho
e fico logo a sorrir
é barato e rápido a sair
a única merda é ter que ir pedir
Aptece-me um cheirinho
Quero um cheirinho
Preciso de Cheirinho
Depois de Beber
fico cheio de pica
só me aptece correr
bem melhor que uma bica
sabe mal como tudo
mas eu não quero saber
um cheirinho por dia
dá saúde e faz crescer
no nome tem "café"
mas café é subjetivo
para ficar bom é ir na fé
despejar bagaço com um sorriso
é pena não durar muito
5 minutos e preciso d'outro
quem me dera que fosse gratuito
apenas café é demasiado neutro
Se estou cansado
é só mandar vir
um café com cheirinho
e fico logo a sorrir
é barato e rápido a sair
a única merda é ter que ir pedir
Se estou cansado
é só mandar vir
um café com cheirinho
e fico logo a sorrir
é barato e rápido a sair
a única merda é ter que ir pedir
é isto o meu dia-a-dia
uma vida sem cheirinho
era uma vida sem alegria
ya
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4. |
Não Fumes
03:28
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Ei tu ai!
Não Fumes!
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5. |
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Fui à praia bem descansado
Mas logo tive que me chatear
Não havia vinho em nenhum lado
Então agora vou ter de répar
É lei que para mim levem
um vinho tinto pra hidratar
como e que vocês se atrevem
agora vão ter que remediar
Um bom vinho por dia
Presta bem atenção
Trás bem estar e alegria
Viva ao Vinho meu irmão!
cacho fresco é necessidade
tomo sempre ao acordar
é o que me mantem a sanidade
um bem em que vale a pena gastar
vinho verde é o que menos bate
mas se me derem não vou recusar
desde que seja vinho não há debate
vou beber até a puta apanhar
Um bom vinho por dia
Presta bem atenção
Trás bem estar e alegria
Viva ao Vinho meu irmão!
Vinho branco até é drena
Sabe bem até para um deus
Bebi tanto na quarentena
O meu fígado já disse adeus
Se não puderem levar um tinto
pelo menos uma cervejinha
vou bebê-la com o mesmo carinho
é bem melhor do que farinha
muitos preferem super bock
mas o mc zeca diz que sagres é que é top
yh
Um bom vinho por dia
Presta bem atenção
Trás bem estar e alegria
Viva ao Vinho meu irmão!
VIVA O VINHO!!!!
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6. |
Praia
03:51
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ya ya
Maltinh maltinha, está na hora
Está na hora maltinha
Direitinho das grandes montanhas do rap
um chouriça caí sempre bem
com o meu vinho do caçem
por favor não me deixes ocupado
que eu já tenho quem me chupe o cajado
quero ir à praia beber uma vinhaça
com umas batatas já é ganda retraça
com vinho a vida tem um propósito
eu penso em Ganza quando tenho q´ir encher o depósito
[Do carro]
o que mais podiam querer?,
uma chouriça ou uma farinheira?
vocês acham que não tenho estilo
mas eu comprei o drip da feira
ainda hoje é quarta-feira
e até agora só ouvi criticar
eu estou na praia estou a mayar
vai pó caralho que vais ver que vais gostar
podes achar que és fixe
mas não estás na zona
eu abro a tua bitch
tipo um kebab ela é bem boa
és um chunga e só falas merda
quando falaste á pouco não disseste nada
tipo que deste em keta
parecias uma cona estagnada
as tuas hoes parecem gormitis
coitadinhas são feias que doi
mas dá para brincar de vez em quando
isso é o que faz de mim o Heroi
na praia armas-te em mau
mas não passas de um animal
achas que fiz um trap
nunca fui ao Rio-de-Janeiro
eu sou o deus do rap
mas tu não passas sequer de um pioneiro
agora voltando à praia
quero aprender a fazer surf
mas tou ocupas a água toda
nem parece que és um smurf
achas que tens as bitches todas a trás de ti
desculpa sócio mas não és eu
achas que és o maior
mas não passas de mais um judeu
uma chouriça caí sempre bem
com o meu vinho do caçem
por favor não me deixes ocupado
que eu já tenho quem me chupe o cajado
só quero ir à praia beber uma vinhaça
e com umas batatas já é ganda retraça
com vinho a vida tem um propósito
eu penso em Ganza quando tenho q´ir encher o depósito
[Do carro]
estás à espera de pegar o cake
tu achas que répas tipo Drake
mas não bro para répares melhor que eu
tinhas de ser melhor que deus
mas não passas de um ateu
com todo este peso do rap
já me doem as costa oh crap
eu preciso de um massagista
mas acho que tu precisas é de um ginecologista
és só mais um fumita
e pensas que andas todo catita
todos dizem que és um agarradinho
e não passas de um atrasadinho
com os pulmões pretos de tanto fumo
devias era ter cartão de maluco
depois do espanhola e do 2 anos
ficas-te a ver navios, ou então a levar no anus
a tua carreira em declinio
e eu aqui com os patrocinios
depois do sons da via tornei-me num deus
deves pensar que sou mais um dos teus
lamento sócio mas não sou um judeu
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7. |
Dor de Pensar
01:39
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Já dizia Fernando Pessoa
Pensar é tótil angustiante
Pensar não é coisa boa
Faz-te ficar sad num instante
Quero animar a malta toda
Podem me chamar de boda
Se estiver angustiado
É complicado estar animado
Caralho ta foda as tuas merdas
Volta pá cona da tua progenitora
O mundo sem ti não tinha perdas
Pareces um sad girl, ganda toura
Pensar dá bué trabalho
Estudar química é bem melhor
Já joguei as cartas do baralho
Mas tá tudo a ficar pior
O dred fernando eu tento q'aturar
vim para CT porque não curto de linguas
mas português continuo a estudar
Já se pediam umas tréguas
Caralho ta foda as tuas merdas
Volta pá cona da tua progenitora
O mundo sem ti não tinha perdas
Pareces um sad girl, ganda toura
Tinhas a mente toda fudida
E nem vivias em 2020
Onde a sociedade está perdida
E ganha depressão por conseguinte
Crias várias personagens
Para tentar acabar essa loucura
Mas isso não te trouxe grandes vantagens
Essa tua panca não tem cura
(Larga as drogas!!)
Caralho ta foda as tuas merdas
Volta pá cona da tua progenitora
O mundo sem ti não tinha perdas
Pareces um sad girl, ganda toura
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8. |
Respeitem as Meninas
02:36
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Boa tarde cavalheiros
uma aula vos vou dar
vamos nessa companheiros
usem caneta para anotar
caderno ou caderneta
sinceramente não importa
não batam à punheta
e rapem bem essa horta
Respeitem as meninas
Parem de fumar
não sejam traquinas
senão elas não vão gostar
Abram-lhes a porta
Deixem-nas entrar primeiro
Já sabem o que importa
é ter vista pó traseiro
Concordem sempre com elas
Elas é que têm razão
Todas as mulheres são belas
Não têm culpa da violação
Respeitem as meninas
Parem de fumar
não sejam traquinas
senão elas não vão gostar
Respeitem as meninas
Parem de fumar
não sejam traquinas
senão elas não vão gostar
Deixam-nas sempre ganhar
Principalmente quando ela está chateada
Peçam desculpa só prás calar
E a seguir mandem-lhe uma puta duma chicotada
Ups estava a brincar meninas
Queria dizer façam-nas sentir encantadas
Pelas vossas características masculinas
E pelas outras coisas acima citadas
So vos queremos fazer felizes
Vocês é que dificultam o processo
Às vezes cometemos uns deslizes
Mas só queremos o vosso sucesso
Sabemos que trair é pecado
E isso não vai ser um problema
Cada um de nós é o mais dedicado
À nossa mulher ser leal é o lema
Respeitem as meninas
Parem de fumar
não sejam traquinas
senão elas não vão gostar
Respeitem as meninas
Parem de fumar
não sejam traquinas
senão elas não vão gostar
sejam bons meninos!
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9. |
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[MC Zeca]
Trabalha Artice, escreve mais aqui
Quero mais das tuas lyrics, todas ainda não li
Se queres que o dinheiro seja atribuído a ti
Rápido que tenho que ir fazer xixi
[Artice]
Tudo bem MC Zeca
Não te vou deixar mal
Por ti escrevia uma biblioteca
Rumo ao sucesso universal
[Preto]
Parem de rimar quero os dois a trabalhar
Se continuarem aqui a repar
Não há musicas para eu lançar
E assim ninguém vai lucrar
[Ratazana]
Afonso deixa de ser mongo
Precisamos de inovar
Se não chamo o Cigas com o bongo
E de uma ganza vais puxar
[Artice]
Vamos ver é se agora
Se arranja um dia para gravar
Tou com o hype a mil à hora
Agora não consigo abrandar
[Zeca]
Vamos lá pó meu roupeiro
Gravar tal perfeição
Chamar o stor de filo paneleiro
E ganhar o orgulho da nação
[Preto]
Tanta ofensa desnecessária
Temos que agradar toda a gente
Entretanto tá aí a funerária
Para enterrar quem tá descontente
[Ratazana]
Tá na hora de mostrar a esses dreds
Que têm que ganhar noção
Vejam lá se se metem a pau
Senão levam já com um colhão
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10. |
Fraude Fiscal
01:59
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Boas Penicheiro
Tu não leves a mal
Mas pareces não ter Dinheiro
Venho falar-te de fraude fiscal
Morte aos ciganos e minorias
Vão trabalhar para ganhar
Sempre à mama de democracias
Os meus impostos estão a roubar
Se impostos não queres pagar
Uma manobra tens que usar
Fraude fiscal é a solução
Pós ciganos nem um tostão
[A Fraude fiscal é o uso de meios ilícitos para evitar o pagamento de taxas, impostos e contribuições]
Mais difícil que lavagem de dinheiro
Este método requer offshore
Senão é como ser fazendeiro
Não é preciso ser tão hardcore
Em esquemas de pirâmide vou participar
Não tenho medo da pena de prisão
Para a Suíça o meu dinheiro vou mandar
Os Políticos dizem que é a sensação
Se impostos não queres pagar
Uma manobra tens que usar
Fraude fiscal é a solução
Pós ciganos nem um tostão
[A Fraude fiscal viola a letra e o espírito da lei fiscal, constituído por isso, infração fiscal penalmente sancionável]
Os impostos são roubo
Seguir a lei já não dá
Eu não os pago nem morto
Vou emigrar para o Canadá
Para presidente vou concorrer
O mundo da política vou mudar
Fraude fiscal vou cometer
Fome já não vão passar
Se impostos não queres pagar
Uma manobra tens que usar
Fraude fiscal é a solução
Pós ciganos nem um tostão
[Abaixo a democracia, abaixo a república, chega de sacrifical as nossas vidas para satisfazer sistemas corruptos, a altura de descontar para interesses políticos acabou, pratiquem fraude fiscal]
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11. |
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Vanessa Ama-me
Vanessa Ama-me por favor, eu não te peço mais nada
Vanessa por favor
Ama-me Vanessa
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12. |
Musica Sem Nome
02:00
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ontem fui à missa
mamei um pão com chouriça
depois encontrei a Luisa
e mandei-lhe assim com a pissa
depois fui ao talho
e vi o gervásio
ele queria ir à praia
mas tava um frio do caralho
bitch gira lá esse canudo
deves pensar que sou surdo
ouvi o que fizeste ontem
a mais o manel mudo
vi a minha dama na rua
ela tava quase nua
ela tava mei tremida
quase com hipotermia
tava na aula de inglês
aquilo estava alta seca
a stora tava a dar manage
e eu acho que fiquei com braind damage
essa bitch acha que é boa
quero é que ela se foda
ela estava meio adormecida
mas alternas são a minha vida
tem cuidado com o teu maço
porque eu consumo o teu tabaco
põe-te a pau
se não podes levar com o taco
depois disso tem cuidado
que o meu "g" é meio passado
se fosse a ti não ficava tão otimista
ou ainda encontras speedo na tua tosta-mista
tu pensas que sou bot
mas não, eu jogo top
tem cuidado quando jogo de sylas
ou vais acabar a chupar umas pilas
ontem fui ao porto
encontrei lá uma alterna
ela chupou-me a dick
e hoje dói-me o escroto
as moças do tinder são todas boas
até as velhas de certa forma
mas o que eu quero mesmo
é ficar-lhes com a reforma
já mandei mensagem a duas
uma delas só quer piloca
a outra até é girinha
mas é uma ganda badalhoca
para concluir já estou um becs farto
está frio comó caralho
acartar a minha pila grande é um fardo
vou comer um dente d`álho
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13. |
Trip to Mijeiro
01:11
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Bem siga mijeiro
não entras se fores paneleiro
vai mazé chupar pila
queres mijar espera na fila
Não sabes a Lei
Não podes mijar
urinóis de shrodinger
homenagem ao rei
Ao lado doutro homem mijar
É ilegal e não ético
Fica fudido de me concentrar
Se tiver que ver o teu pau esquelético
Estou a desviar-me do tema
não é isto que importa
não tenho a pila pequena
e muito menos torta
mijar é um momento reflectivo
tenho muito em que pensar
não ser incomodado é o objetivo
o proximo album tenho que planear
não sei o que mais dizer
vou acabar a musica por aqui
vou mazé fuder
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14. |
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Se um dia alguém perguntar por mim
Diz que vivi pra te amar
Antes de ti, só existi
Cansado e sem nada pra dar
Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez, devagarinho, possas voltar a aprender
Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez, devagarinho, possas voltar a aprender
Se o teu coração não quiser ceder
Não só ter paixão, não quiser sofrer
Sem fazer planos do que virá depois
O meu coração pode amar pelos dois
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15. |
Ode Triunfal
17:20
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À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical —
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força —
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!
Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés — oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos!
Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de L’Opéra que entram
Pela minh’alma dentro!
Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule!
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras!
Comerciantes; vários; escrocs exageradamente bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer;
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra
E afinal tem alma lá dentro!
(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)
A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!
Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes —
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto
E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!
Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios!
Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções!
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem!
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente.
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma actual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!
Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes —
Na minha mente turbulenta e encandescida
Possuo-vos como a uma mulher bela,
Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama,
Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima.
Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas!
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!
Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos,
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore
E um parlamento tão belo como uma borboleta).
Eh-lá o interesse por tudo na vida,
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras
Até à noite ponte misteriosa entre os astros
E o mar antigo e solene, lavando as costas
E sendo misericordiosamente o mesmo
Que era quando Platão era realmente Platão
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele.
Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída.
Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo de navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!
Up-lá hô jockey que ganhaste o Derby,
Morder entre dentes o teu cap de duas cores!
(Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta!
Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!)
Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas.
E ser levado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!
Ó tramways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla! hilla! hilla-hô!
Dai-me gargalhadas em plena cara,
Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas,
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria!
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro,
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!
Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos — e eu acho isto belo e amo-o! —
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.
Maravilhosamente gente humana que vive como os cães
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!
(Na nora do quintal da minha casa
O burro anda à roda, anda à roda,
E o mistério do mundo é do tamanho disto.
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente.
A luz do sol abafa o silêncio das esferas
E havemos todos de morrer,
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo,
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa
Do que eu sou hoje...)
Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas.
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!
Eh-lá grandes desastres de comboios!
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim,
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,
E outro Sol no novo Horizonte!
Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.
Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos, Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar,
Engenhos brocas, máquinas rotativas!
Eia! eia! eia!
Eia electricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô! eia!
Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!
Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!
Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!
Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!
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MC Zeca Lourinhã, Portugal
Desde novo sempre teve uma tendência para o autismo, e com o passar do tempo confirmou-se. Mc Zeca, original de Lourinhã, 2530, é o novo célebre rapper/cantor de vários géneros musicais (Rap, Nu metal, hardstyle e pimba)
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